Fukushima Funk!



A foto acima mostra margaridas com deformações perto da usina de Fukushima, no Japão. O colapso de três geradores nucleares em 2011 é um grande desastre ambiental que ainda está acontecendo. É claro que não se pode reportar esse tipo de coisa com alarmismo, pode causar pânico geral. Logo surgiu uma outra explicação, verossímil mais cômoda, de que essa é uma deformação comum em margaridas, causada por um desequilíbrio hormonal, fenômeno que acontece com flores no mundo todo. Porém, moradores da região também tem reportado deformações em insetos e animais.

Apesar de ser um assunto relegado ao silêncio pela mídia - para nossa própria segurança, é claro - é possível pesquisar e achar muita informação que mostra que o desastre foi além da nossa capacidade tecnológica e vontade política para resolvê-lo. Lembrei de algumas notícias que havia lido ano passado e resolvi dar uma olhada em informações mais novas. A radiação continua se espalhando, contaminando depósitos subterrâneos de água, terra cultivável, e atravessando todo o Oceano Pacífico para chegar à costa oeste da América do Norte. Mas o governo japonês reativou a usina e 6.000 trabalhadores voltaram ao serviço no primeiro trimestre de 2015. É inevitável, necessário para manter a economia do Japão, que nos anos após o desastre, sofreu severas baixas. O mundo precisa seguir o letal curso do progresso, a energia nuclear será um fator cada vez mais constante. Fukushima é aqui.

Lembrei também de um texto que escrevi quando o impacto do desastre atingiu minha mente. Escrevi em meu caderno essa prosa poética radioativa, um tanto fatalista e palavrosa, mas mais honesta que a velha mídia e os governos do mundo, que transcrevo agora:


 

Uma titânica onda de devastação tóxica se aproxima de nós a cada momento. O sempiterno fluxo de catástrofes nucleares desencadeados pelos selvagens corcéis da ambição se eleva tal como serpente gigantesca, pronta para precipitar-se sobre nós feito silenciosa tempestade pestilenta. Já devora sem pesar a vida florescente do oceano, infectando os seres que consumimos em escala massiva e industrial. Campanhas milionárias para convencer japonês a comer peixe. O silêncio criminoso da velha mídia, cúmplice da hecatombe sorrateira que abate e seduz com a voracidade do caos. A sede do abismo. Tudo segue o ritmo quebradiço dessa óssea orquestração, o compasso aquebrantado dos músicos moribundos. Lá vem o capitão da imensa nuvem tóxica, ribombando trovões abortados, atirados do útero umbralino de sua embarcação miasmática, sorrindo com dentes de chumbo e a espada em riste. Nada se vê na imensidão negra de seus olhos que não estão lá. A vida escorre, o tempo cresce. A fumaça se dissipa e eu a trago para meu peito, leito pulmonar de efisema e revolta. Tusso os espectros de um mal maior. Assimilar o terror para melhor revelar... A iminência da dor não pode nos parar. Fukushima Funk! Você vai lembrar.



A rosa de Hiroshima, a margarida de Fukushima... continuamos colhendo as flores malsãs que o progresso cultiva no jardim da civilização. Numa violação cada vez mais violenta de sua mãe natureza, como um Édipo sinistro de órgãos industriais, nossa espécie segue o caminho de seu extermínio programado, levando muitas outras com ela.



Algumas fontes:

http://www.rt.com/news/310577-fukushima-deformed-mutated-daisies/
http://www.statesmanjournal.com/story/tech/science/environment/2015/04/06/fukushima-radiation-reached-north-american-shores/25322871/https://www.washingtonpost.com/blogs/worldviews/wp/2015/03/12/3-ways-the-fukushima-nuclear-disaster-is-still-having-an-impact-today
http://www.globalresearch.ca/28-signs-that-the-west-coast-is-being-absolutely-fried-with-nuclear-radiation-from-fukushima/5355280

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