Linguarmada

Herb Auerbach
                                                                                                                                                              

pugilistas mecânicos
 
 em velocidade inercial

fendem-se os candelabros da revelação


vergam-se os ferros da divina ação


o olhar retalhado em múltiplos cacos de visão


um apelo à vertigem


magnetizados pelas atmosferas


dínamos de pólos apolíneos


polaridades transversas


transgressas


popularidade espontânea


afloramento no lodaçal das imagens


tênue lua lupina no olho da flor


que flutua sobre teus humores


transfixada em teu cérebro como espada mitológica


intoxicando teus templos com minha carga semiótica


profana luz que reverbera nas colunas


vértebras serpentinas


rastejando no ar


pleno vôo no abismo


escorre a seiva


vulcânica minerva


fervida em auroras glaciais


tempestades íntimas


fruições malditas


a cada faca uma vista


a cada reflexo uma vítima


lampejo sombrio


hediondo diácono dionísio


orvalho de chumbo


suor sacrossanto


secreção saborosa


peçonha viçosa

 
tua língua 

é uma guilhotina


Tempo negro

Jornal do Brasil - 14/12/1968

vermis cerebellar

                                                                                    Denis Forkas Kostromitin


meu cérebro é um cadáver exposto

vísceras a céu aberto

assaltado por todos os cantos

em angulações grotescas

gera a bile sulfurosa

em golpes de fatos inegáveis

chorume quântico da ordem deposta

bile negra das angústias

bile negra da revolta

é a seiva desse corpo

decomposto a contragosto

florescendo ervas carnívoras
 
caravelas necrófagas

em incessante devoramento
 
devoramento e reprodução

quem disse que os mortos não sentem tesão?

a alma do mundo

é um verme imundo


                                                                                                                                             (2014)