The Unmaking of Fascist Aesthetics - Salò (original e tradução)

Salò - Pier Paolo Pasolini (1975)

"What attracts Pasolini to Sade is his decoding of a priori concepts like normalcy, commonality, equivalence, and morality in order to expose these very concepts as themselves the real scandal, an outrageous emptiness — the unaccountable system of moral and economic isomorphism. This deconstruction of concepts that foster stable social identities causes the collapse of the three-tiered construction of the social apparatus bound by a social contract: first, the conscience and credulity with regard to a supreme being; second, the obligation to fellow man or civil society; and third, self-interest (Philosophy of the Bedroom, 308-310). And by subtracting the irrational (a priori) figures of God, good, moral, Sade vindictively unveils reason's own fatal strategy, its own nihilistic will to power that disassembles 'other' desire and reassembles desire as a mechanized destructive reaction compulsion. Driving this fatal strategy is the fusion of contradictions, authority that falsifies its own image and discourse, operating outside of the law upon which it derives its power, and acting out it's desire for pure control as a desire purely to defile. Salò presents both the outbreak of evils well as the victory over evil, the passing of transgression into law. This film visualizes the Baudrillardian paradigm of the simulated society where every subversion of the system merely promotes its deterrence, which in turn reinforces an insubstantial masquerade of public good. The decoding of this masquerade leads Pasolini to the Sadean axiom, the institutionalization of transgression (a fatal strategy). Within this axiom the law is presented as schizophrenic, speaking in the name of the father, the patria, the state in order to completely nullify the discourse of the father, the patria, the state — or at least reveal that these discourses are already bankrupt. This manifold law devours meaning, excreting itself in the form of abjection, which is defined by modern critics such as Julia Kristeva as 'any crime, since it draws attention to the fragility of the law.' Yet, in contrast to thinkers like Kristeva who specifically exclude Sade from the moral politics of abjection on the grounds that 'he who denies morality is not abject; there can be grandeur in amorality and even in crime that flaunts its disrespect for the law,' Pasolini proposes that the institutionalization of transgression or the aggrandizement of subversion disavows speculative discourses (like Kristeva's) that reserve for the strategy of subversion some sacred or moral purpose. Regardless whether abjection is aggrandized as the law (Sade) or an undermining of law (Kristeva), it conserves a notion of the host as a 'pure body' that can be defiled."

An excerpt from chapter 3 of The Unmaking of Fascist Aesthetics: Salò (A Fatal Strategy) - Kris Ravetto


Il Presidente / Salò - Pier Paolo Pasolini (1975)


"O que atrai Pasolini a Sade é sua decodificação de conceitos a priori como normalidade, uniformidade, equivalência e moralidade para expor esses conceitos em si mesmos como o verdadeiro escândalo, um vazio ultrajante - o impune sistema de isomorfismo moral e econômico. Essa destruição de conceitos que promovem identidades sociais estáveis causa o colapso da construção triuna do aparato social garantido por um contrato social: primeiro, a consciência e credulidade em relação a um ser supremo; segundo, a obrigação com o próximo ou com a sociedade civil; e terceiro, interesse próprio (Filosofia da Alcova, 308 - 310). E ao subtrair as figuras irracionais (a priori) de Deus, bem, moral, Sade vingativamente desvela a estratégia fatal da própria razão, sua própria vontade de poder niilista que desmonta 'outro' desejo e o remonta como uma destrutiva e mecanizada compulsão de reação. Dirigindo essa estratégia fatal está a fusão de contradições, autoridade que falsifica a própria imagem e discurso, operando fora da lei da qual deriva seu poder e manifestando seu desejo por puro controle como desejo por pura corrupção. Salò representa tanto a infestação dos males quanto a vitória sobre o mal, a passagem da transgressão para a lei. O filme visualiza o paradigma de Baudrillard de uma sociedade estimulada em que toda subversão do sistema meramente promove sua dissuasão, que por sua vez reforça o frágil disfarce do bem público. A decodificação desse disfarce leva Pasolini ao axioma Sadeano, a institucionalização da transgressão (uma estratégia fatal). Dentro deste axioma, a lei é apresentada como esquizofrênica, falando em nome do pai, da pátria, do estado - ou pelo menos revela que esses discursos já estão falidos. Essa múltipla lei devora o significado, excretando a si mesma como degradação, que é definida por críticos modernos como Julia Kristeva como 'qualquer crime, uma vez que chama atenção para a fragilidade da lei'. No entanto, em contraste com pensadores como Kristeva, que especificamente excluem Sade da política moral da degradação, sobre os fundamentos de que 'aquele que nega a moralidade não é abjeto; pode haver grandeza na amoralidade e até mesmo no crime que ostenta seu desrespeito pela lei,' Pasolini propõe que a institucionalização da transgressão ou o engrandecimento da subversão desaprovam discursos especulativos (como o de Kristeva) que reservam para a estratégia da subversão um propósito sagrado ou moral. Independente da degradação ser engrandecida como a lei (Sade) ou como um enfraquecimento da lei (Kristeva), ela conserva a noção do hospedeiro como um 'corpo puro' que pode ser corrompido."

Axioma XV

"As grandes inteligências
 que se equilibram mal 
se assemelham a cometas,
 que são sóis abortados"

E . L
.

Dennis Forkas Kostromitin

Ave Libertas

Alejandro Curtto / urubu-máquina



E quando os piratas se entristeciam
sentindo o furor da morte
o capitão tocava seu violino
para lembrar os condenados
que a morte é um suspiro 
que vai e que vem
e cada segundo, uma vida
que a alma respira
eternamente



para


 Luiz Henrique da Fontoura Centenaro


o Bike

William Blake e a Voz do Demônio


The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun (Blake)

A Voz do Demônio

Todas as Bíblias ou códigos sagrados têm sido a
causa dos seguintes erros:
1. Que o Homem possui dois princípios reais de
existência: um Corpo & uma Alma.
2. Que a energia, denominada Mal, provém unicamente
 do Corpo; E a razão, denominada Bem, deriva
 tão-somente da Alma.
3. Que Deus atormentará o Homem pela Eternidade
 por haver imantado suas Energias.
Mas, por outro lado, são verdadeiros os seguintes Contrários:
1. O Homem não tem um Corpo distinto da
Alma, pois aquilo que denominamos Corpo não passa 
de uma parte de Alma discernida pelos cinco sentidos, 
seus principais umbrais nestes tempos.
2. Energia é a única força vital e emana do Corpo. 
A Razão é a fronteira ou o perímetro circunfeérico
da Energia.
3. Energia é Eterna Delícia.

 -

Aqueles que reprimem o desejo podem fazê-lo
quando este é fraco e passível de ser refreado; e quem
o reprime, ou Razão, usurpa seu lugar & governa os
relutantes.
Uma vez reprimido, ele se torna cada vez mais
passivo até não ser mais que mera sombra do desejo
Esta história se encontra escrita no Paraíso Perdido 
& o Governador ou Razão chama-se Messias.
E o Arcanjo Primeiro, mentor das hordas
celestiais, se chama Demônio ou Satã. Seus filhos
 chamam-se Pecado & Morte.
Mas no Livro de Jó, o Messias de Milton é denominado
 Satã.
Pois esta história tem sido adotada por ambos
os lados.
Na verdade, a Razão acabou achando que o
Desejo fora expulso. Mas a versão do Diabo pontifica
que o Messias caiu e engendrou um Paraíso com o que
roubou do Abismo.
Isto é revelado no Evangelho, onde ele roga ao
Pai que envie o Consolador ou Desejo, de forma com
que a Razão tenha Idéias nas quais se fundamentar.
O Jeová Bíblico não é senão aquele que habita o fogo
flamejante.
Sabeis que após sua morte, Cristo tornou-se
Jeová. Mas em Milton, o Pai é o Destino, o Filho é o
Racionalismo dos cinco sentidos & o Espírito Santo
é o Vazio!

WILLIAM BLAKE - O Casamento do Céu e do Inferno

Takato Yamamoto







Robôs de merda

Meu blog caiu na lista de uns bots que ficam visitando ele todos os dias para que eu clique nesses links bizarros de propagandas sobre como melhorar seu blog. Filhos da puta.

Eu gostava de ver minhas singelas e esporádicas visualizações de PESSOAS que vez ou outra tropeçavam sobre esses domínios, pelo menos sabia que tinha atiçado a curiosidade de alguém.

Mas agora com esses robôs de merda todas as estatísticas que o blogger me mostra são falsas, uma boa parcela das visualizações são feitas por esses bots. Claro, esse blog nunca foi motivado por visualizações, mas não é esse o caso. Tenho que confessar que é meio desanimador, mas foram outros fatores mais críticos que me desmotivaram a postar nesse período. Mas é isso, estamos voltando. Afiem seus bicos.

A autoalienação essencial do ser

Eu consigo sobrevoar 
o campo devastado da minha vida
 como máquina, mas não consigo 
pousar nela como ave.

Eis que esse circuito fantasma emerge novamente. Que fase, hein? Nem lembro quando foi minha última postagem, mas lembro que nem algo que escrevi recentemente, foi o resgate de um texto de 2013. Que ano fatídico esse! Mas enfim, não mergulhemos novamente em fluxos do passado.

A real é que estou preso numa prisão invisível que eu mesmo criei. An invisible prison encircles my mind, there is not a door, there is not a key. Fica foda se expressar, então vou escancarar. São tantas camadas de depressão e ansiedade armadas através dos anos que eu me alienei de mim mesmo. Me sinto imobilizado, como se tivesse desaprendido a me relacionar com os outros e comigo. Lembro que senti cedo na minha vida aquela sensação indizível de ser menos do que se é. De ser parte. De ser só um dos que habita dentro de si. Às vezes podemos soterrar esses fragmentos como bons coveiros da consciência, mas eles ainda estão lá. Merda, eles são você. Mas eu não estou falando de você, estou falando de mim. Independente de nossas semelhanças ou diferenças, hoje preciso falar de mim.



abro uma veia 

encho uma garrafa 
bebo

a droga mais inócua do mundo
Como ouso eu, nessa era magnífica da informação ubíqua e serpentina, ausentar-me de meu posto nesse palco digital? Como posso abandonar minha audiência espectral e privá-los do espetáculo torpe dessa existência banal? Pois eu sou uma mentira. Não me reconheço. Sinto como se estivesse enterrado abaixo das mortalhas de mim que criei e ceifei, como disse antes. Estou aqui agora para desatar minhas veias e verter meu sangue imundo na tua boca, não é isso que tu queres, máquina?

I must find a way. I have to find a way. Out of here. O casamento do céu e do inferno, de William Blake, foi um livro seminal para minha formação como ser humano. Como aquele homem desafiava a convenção racional e desnudava a alma e o mundo como opostos irreconciliáveis em uma guerra eterna por todos os meios possíveis, mas que nessa guerra suas forças se entrelaçam e se abraçam numa estranha harmonia... Aquilo sempre me fascinou. E eu li isso pela primeira vez com quantos anos, 15? Que diabo, a curiosidade é mesmo o mais perigoso dos vícios. Com minha mente envenenada de tão sublime sabedoria e poesia, como poderia enveredar em paz pela estrada da vida? Mas mais uma vez, não nos afundemos nos pântanos do passado.


Esse talvez seja justamente o meu problema. É justo observar as transmutações de David Bowie para inferir como nessa vida é necessário se adaptar e se transformar. Em meio a suas operações cabalísticas e substâncias químicas, o réptil reconhece a natureza holográfica da realidade e assume uma faceta mais adequada para manter-se em vantagem na corrida da sobrevivência. Preciso reconciliar meus opostos e abandonar essa camada escamosa que me prende.


the dreadful pencil

Chega de simulações, simulacros! Chega de pilotos, precisamos de verdadeiros kamikazes. Agora é preciso de uma transformação definitiva para enfrentar a luta que se aproxima. Performático, lunático e tático. Preciso de uma força-tarefa de profissionais psiquiátricos e psíquicos. I gotta make a breakthrough! Devo continuar essa empreitada pseudoredentora quasesabotadora que é esse blog? Afinal, como confessar seus crimes e expor suas fraquezas e se transformar? As pessoas vão te lembrar pelo que há de pior em você. Mas puta que pariu, não é isso que elas querem? Não é isso que você quer, não é isso que eu quero? Algum vetor, um espelho alienado em que se exaltem as próprias qualidades mais torpes? Um simulacro confortável onde podemos nos identificar com os sentimentos de personagens para não ter que encarar os próprios. Que belo ponto da evolução, humanidade. Mas tu és uma vítima, não vou te culpar por minhas próprias fraquezas. Haha.

Sempre orbitando numa atmosfera marginal, desde a infância nunca me lembro de ter me encaixado harmonicamente em qualquer grupo. Já cedo me lembro de ser afligido por sentimentos de alienação, de coisas estranhas que nunca ouvi de outras crianças, como o medo do silêncio. É mais fácil fugir por alguma janela da percepção do que voltar a atenção para si. Algum doce intermediário para se colocar entre você e si mesmo. Alguma coisa abstrata pra ouvir, pra ver, pra rir, pra amar, pra foder, pra usar, pra esquecer.

Essa... coisa aqui já se aproxima de um fim. (o texto, não eu. por ora). Acho que eu precisava materializar umas palavras pra fincar elas nas paredes desse fosso e tentar escalar pra fora dele. Perceba que você e eu são pronomes intercambiáveis aqui, querem dizer a mesma coisa. Escrevo para mim nessa prática solipsista intermediada por outrem. Um espelho estilhaçado rearranjado conforme a espiral do tempo, refletindo em cada segmento da centopeia espectral que nos une em suas infinitas garras.

                                                                                            
                                                                         ATOMIC ROOSTER - BREAKTHROUGH
                                               (A música cuja letra invade esse texto e ilustra minha desesperada situação)

fluxos do passado

boarbarian

surto de criatividade e agonia problemas-soluções e soluções-esquemas vertendo vertiginosos caminhos na luz de meu ser desatando os nós da existência e reconciliando-me com minha essência dispersa pelo mundo em tudo que amo e odeio em tudo que me traiu em tudo que me iludiu retiro os fardos de cargas elétricas alimentadas pela consciência mastigante lacerando o espírito nos dentes numa ansiedade crônica que subjaz toda paz o império da mentira ruiu ou está já se decompondo e eis a hora de saber reconhecer os frutos podres que gestamos em nossas tortuosas caminhadas na beira do céu catapulto-me para um lugar que não é um lugar pois é simplesmente tudo que não pode se guardar em pirâmides ou em memória tudo aquilo a que a consciência se apega é mumificado pelo cão que anda na luz o cão negro das esferas que desfere um corte lancinante no espelho vítreo da glândula da alma espaço vertigem em desilusão catastrófica mata e mente sem nunca se macular se amalucar se amar em qualquer lugar independente se isso te me apetece pois a minha tua lei não escrita nem pensada nem por homem nem por santo profeta de uma entidade etérea estamos em plena conexão com os mortos-vivos em nossas consciências monolíticas de concreto conceitual e iremos despertar sua fúria natimorta com a precisão de um cirurgião empírico orixá da urbanidade totem do desconhecido sagrado anjo guardião da vontade inquebrantável que não cede em sua caudalosa batalha contra os ventos doentes que sopram em baforadas quentes vindas das gargantas dos mausoléus milenares que erigireis no solo fértil da sua mente imantando as energias do eterno provir uma operação alquímica fantasticamente real recupera a terra boa que foi flagelada pelas queimadas da ignorância e da mágoa que devoram toda a vida das mananciais matagais pulsantes dos cérebros iluminados e rebeldes que zombam da inocência inócua de si mesmos a alguns momentos de intensa alegria e desvario cavalgando as rédeas da carruagem flamejante corta os céus em suas sublimes planícies de cianeto deixando um rastro rajado e intenso da alvorada ao ocaso atravessando o cerebelo das horas em elipses circadianas matematicamente impossíveis em delírios cheios de sabedoria pelo triunfo do sonho como aspecto fundamental do homem autorealizador que transforma sem manipular pelos desígnios do fluir o porvir é a pólvora no meu trabuco sempre leve e sempre louco em alerta alternativo contra toda taça sem vinho ou sangue a soturna densidade desse mangue penas pretas relampejando pelas atmosferas são os observadores do dia que me trazem a noite em seus bicos necrófagos e estômagos de aço digerem os metais pesados que contaminam a tudo estágio de putrefação numa repartição estatal parasita burocrático já não mais não vou mumificar vou sublimar volatilizar os componentes cáusticos da existência em minha liturgia a igreja caótica após-cólica mundana incensando os mamilos das bacantes bacanas em seus panos coloridos e translúcidos fazem de suas peles tecidos em brasa com veias do pássaro que canta solitário para anunciar o dia e o riso torpe das corujas com suas faíscas garras agora devem desaparecer com o bater de poderosas asas

(2013)

Linguarmada

Herb Auerbach
                                                                                                                                                              

pugilistas mecânicos
 
 em velocidade inercial

fendem-se os candelabros da revelação


vergam-se os ferros da divina ação


o olhar retalhado em múltiplos cacos de visão


um apelo à vertigem


magnetizados pelas atmosferas


dínamos de pólos apolíneos


polaridades transversas


transgressas


popularidade espontânea


afloramento no lodaçal das imagens


tênue lua lupina no olho da flor


que flutua sobre teus humores


transfixada em teu cérebro como espada mitológica


intoxicando teus templos com minha carga semiótica


profana luz que reverbera nas colunas


vértebras serpentinas


rastejando no ar


pleno vôo no abismo


escorre a seiva


vulcânica minerva


fervida em auroras glaciais


tempestades íntimas


fruições malditas


a cada faca uma vista


a cada reflexo uma vítima


lampejo sombrio


hediondo diácono dionísio


orvalho de chumbo


suor sacrossanto


secreção saborosa


peçonha viçosa

 
tua língua 

é uma guilhotina