William Blake e a Voz do Demônio


The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun (Blake)

A Voz do Demônio

Todas as Bíblias ou códigos sagrados têm sido a
causa dos seguintes erros:
1. Que o Homem possui dois princípios reais de
existência: um Corpo & uma Alma.
2. Que a energia, denominada Mal, provém unicamente
 do Corpo; E a razão, denominada Bem, deriva
 tão-somente da Alma.
3. Que Deus atormentará o Homem pela Eternidade
 por haver imantado suas Energias.
Mas, por outro lado, são verdadeiros os seguintes Contrários:
1. O Homem não tem um Corpo distinto da
Alma, pois aquilo que denominamos Corpo não passa 
de uma parte de Alma discernida pelos cinco sentidos, 
seus principais umbrais nestes tempos.
2. Energia é a única força vital e emana do Corpo. 
A Razão é a fronteira ou o perímetro circunfeérico
da Energia.
3. Energia é Eterna Delícia.

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Aqueles que reprimem o desejo podem fazê-lo
quando este é fraco e passível de ser refreado; e quem
o reprime, ou Razão, usurpa seu lugar & governa os
relutantes.
Uma vez reprimido, ele se torna cada vez mais
passivo até não ser mais que mera sombra do desejo
Esta história se encontra escrita no Paraíso Perdido 
& o Governador ou Razão chama-se Messias.
E o Arcanjo Primeiro, mentor das hordas
celestiais, se chama Demônio ou Satã. Seus filhos
 chamam-se Pecado & Morte.
Mas no Livro de Jó, o Messias de Milton é denominado
 Satã.
Pois esta história tem sido adotada por ambos
os lados.
Na verdade, a Razão acabou achando que o
Desejo fora expulso. Mas a versão do Diabo pontifica
que o Messias caiu e engendrou um Paraíso com o que
roubou do Abismo.
Isto é revelado no Evangelho, onde ele roga ao
Pai que envie o Consolador ou Desejo, de forma com
que a Razão tenha Idéias nas quais se fundamentar.
O Jeová Bíblico não é senão aquele que habita o fogo
flamejante.
Sabeis que após sua morte, Cristo tornou-se
Jeová. Mas em Milton, o Pai é o Destino, o Filho é o
Racionalismo dos cinco sentidos & o Espírito Santo
é o Vazio!

WILLIAM BLAKE - O Casamento do Céu e do Inferno

Takato Yamamoto







Robôs de merda

Meu blog caiu na lista de uns bots que ficam visitando ele todos os dias para que eu clique nesses links bizarros de propagandas sobre como melhorar seu blog. Filhos da puta.

Eu gostava de ver minhas singelas e esporádicas visualizações de PESSOAS que vez ou outra tropeçavam sobre esses domínios, pelo menos sabia que tinha atiçado a curiosidade de alguém.

Mas agora com esses robôs de merda todas as estatísticas que o blogger me mostra são falsas, uma boa parcela das visualizações são feitas por esses bots. Claro, esse blog nunca foi motivado por visualizações, mas não é esse o caso. Tenho que confessar que é meio desanimador, mas foram outros fatores mais críticos que me desmotivaram a postar nesse período. Mas é isso, estamos voltando. Afiem seus bicos.

A autoalienação essencial do ser

Eu consigo sobrevoar 
o campo devastado da minha vida
 como máquina, mas não consigo 
pousar nela como ave.

Eis que esse circuito fantasma emerge novamente. Que fase, hein? Nem lembro quando foi minha última postagem, mas lembro que nem algo que escrevi recentemente, foi o resgate de um texto de 2013. Que ano fatídico esse! Mas enfim, não mergulhemos novamente em fluxos do passado.

A real é que estou preso numa prisão invisível que eu mesmo criei. An invisible prison encircles my mind, there is not a door, there is not a key. Fica foda se expressar, então vou escancarar. São tantas camadas de depressão e ansiedade armadas através dos anos que eu me alienei de mim mesmo. Me sinto imobilizado, como se tivesse desaprendido a me relacionar com os outros e comigo. Lembro que senti cedo na minha vida aquela sensação indizível de ser menos do que se é. De ser parte. De ser só um dos que habita dentro de si. Às vezes podemos soterrar esses fragmentos como bons coveiros da consciência, mas eles ainda estão lá. Merda, eles são você. Mas eu não estou falando de você, estou falando de mim. Independente de nossas semelhanças ou diferenças, hoje preciso falar de mim.



abro uma veia 

encho uma garrafa 
bebo

a droga mais inócua do mundo
Como ouso eu, nessa era magnífica da informação ubíqua e serpentina, ausentar-me de meu posto nesse palco digital? Como posso abandonar minha audiência espectral e privá-los do espetáculo torpe dessa existência banal? Pois eu sou uma mentira. Não me reconheço. Sinto como se estivesse enterrado abaixo das mortalhas de mim que criei e ceifei, como disse antes. Estou aqui agora para desatar minhas veias e verter meu sangue imundo na tua boca, não é isso que tu queres, máquina?

I must find a way. I have to find a way. Out of here. O casamento do céu e do inferno, de William Blake, foi um livro seminal para minha formação como ser humano. Como aquele homem desafiava a convenção racional e desnudava a alma e o mundo como opostos irreconciliáveis em uma guerra eterna por todos os meios possíveis, mas que nessa guerra suas forças se entrelaçam e se abraçam numa estranha harmonia... Aquilo sempre me fascinou. E eu li isso pela primeira vez com quantos anos, 15? Que diabo, a curiosidade é mesmo o mais perigoso dos vícios. Com minha mente envenenada de tão sublime sabedoria e poesia, como poderia enveredar em paz pela estrada da vida? Mas mais uma vez, não nos afundemos nos pântanos do passado.


Esse talvez seja justamente o meu problema. É justo observar as transmutações de David Bowie para inferir como nessa vida é necessário se adaptar e se transformar. Em meio a suas operações cabalísticas e substâncias químicas, o réptil reconhece a natureza holográfica da realidade e assume uma faceta mais adequada para manter-se em vantagem na corrida da sobrevivência. Preciso reconciliar meus opostos e abandonar essa camada escamosa que me prende.


the dreadful pencil

Chega de simulações, simulacros! Chega de pilotos, precisamos de verdadeiros kamikazes. Agora é preciso de uma transformação definitiva para enfrentar a luta que se aproxima. Performático, lunático e tático. Preciso de uma força-tarefa de profissionais psiquiátricos e psíquicos. I gotta make a breakthrough! Devo continuar essa empreitada pseudoredentora quasesabotadora que é esse blog? Afinal, como confessar seus crimes e expor suas fraquezas e se transformar? As pessoas vão te lembrar pelo que há de pior em você. Mas puta que pariu, não é isso que elas querem? Não é isso que você quer, não é isso que eu quero? Algum vetor, um espelho alienado em que se exaltem as próprias qualidades mais torpes? Um simulacro confortável onde podemos nos identificar com os sentimentos de personagens para não ter que encarar os próprios. Que belo ponto da evolução, humanidade. Mas tu és uma vítima, não vou te culpar por minhas próprias fraquezas. Haha.

Sempre orbitando numa atmosfera marginal, desde a infância nunca me lembro de ter me encaixado harmonicamente em qualquer grupo. Já cedo me lembro de ser afligido por sentimentos de alienação, de coisas estranhas que nunca ouvi de outras crianças, como o medo do silêncio. É mais fácil fugir por alguma janela da percepção do que voltar a atenção para si. Algum doce intermediário para se colocar entre você e si mesmo. Alguma coisa abstrata pra ouvir, pra ver, pra rir, pra amar, pra foder, pra usar, pra esquecer.

Essa... coisa aqui já se aproxima de um fim. (o texto, não eu. por ora). Acho que eu precisava materializar umas palavras pra fincar elas nas paredes desse fosso e tentar escalar pra fora dele. Perceba que você e eu são pronomes intercambiáveis aqui, querem dizer a mesma coisa. Escrevo para mim nessa prática solipsista intermediada por outrem. Um espelho estilhaçado rearranjado conforme a espiral do tempo, refletindo em cada segmento da centopeia espectral que nos une em suas infinitas garras.

                                                                                            
                                                                         ATOMIC ROOSTER - BREAKTHROUGH
                                               (A música cuja letra invade esse texto e ilustra minha desesperada situação)