fluxos do passado

boarbarian

surto de criatividade e agonia problemas-soluções e soluções-esquemas vertendo vertiginosos caminhos na luz de meu ser desatando os nós da existência e reconciliando-me com minha essência dispersa pelo mundo em tudo que amo e odeio em tudo que me traiu em tudo que me iludiu retiro os fardos de cargas elétricas alimentadas pela consciência mastigante lacerando o espírito nos dentes numa ansiedade crônica que subjaz toda paz o império da mentira ruiu ou está já se decompondo e eis a hora de saber reconhecer os frutos podres que gestamos em nossas tortuosas caminhadas na beira do céu catapulto-me para um lugar que não é um lugar pois é simplesmente tudo que não pode se guardar em pirâmides ou em memória tudo aquilo a que a consciência se apega é mumificado pelo cão que anda na luz o cão negro das esferas que desfere um corte lancinante no espelho vítreo da glândula da alma espaço vertigem em desilusão catastrófica mata e mente sem nunca se macular se amalucar se amar em qualquer lugar independente se isso te me apetece pois a minha tua lei não escrita nem pensada nem por homem nem por santo profeta de uma entidade etérea estamos em plena conexão com os mortos-vivos em nossas consciências monolíticas de concreto conceitual e iremos despertar sua fúria natimorta com a precisão de um cirurgião empírico orixá da urbanidade totem do desconhecido sagrado anjo guardião da vontade inquebrantável que não cede em sua caudalosa batalha contra os ventos doentes que sopram em baforadas quentes vindas das gargantas dos mausoléus milenares que erigireis no solo fértil da sua mente imantando as energias do eterno provir uma operação alquímica fantasticamente real recupera a terra boa que foi flagelada pelas queimadas da ignorância e da mágoa que devoram toda a vida das mananciais matagais pulsantes dos cérebros iluminados e rebeldes que zombam da inocência inócua de si mesmos a alguns momentos de intensa alegria e desvario cavalgando as rédeas da carruagem flamejante corta os céus em suas sublimes planícies de cianeto deixando um rastro rajado e intenso da alvorada ao ocaso atravessando o cerebelo das horas em elipses circadianas matematicamente impossíveis em delírios cheios de sabedoria pelo triunfo do sonho como aspecto fundamental do homem autorealizador que transforma sem manipular pelos desígnios do fluir o porvir é a pólvora no meu trabuco sempre leve e sempre louco em alerta alternativo contra toda taça sem vinho ou sangue a soturna densidade desse mangue penas pretas relampejando pelas atmosferas são os observadores do dia que me trazem a noite em seus bicos necrófagos e estômagos de aço digerem os metais pesados que contaminam a tudo estágio de putrefação numa repartição estatal parasita burocrático já não mais não vou mumificar vou sublimar volatilizar os componentes cáusticos da existência em minha liturgia a igreja caótica após-cólica mundana incensando os mamilos das bacantes bacanas em seus panos coloridos e translúcidos fazem de suas peles tecidos em brasa com veias do pássaro que canta solitário para anunciar o dia e o riso torpe das corujas com suas faíscas garras agora devem desaparecer com o bater de poderosas asas

(2013)