flanares planares

Robert Williams

caminhos secretos, esquisitos
caminhos de estranhos espíritos
onde paira um odor purpúreo, opiáceo
um oceano de vibrações estáticas
e ressonâncias etéricas
constatações estratosféricas
a astronomia molecular
de uma conversa fiada de bar

são as sendas que iremos trilhar
entrando pelas fendas de cada olhar
cada alma um reflexo no espelho distorcido
de uma coletividade feérica de índole famélica
distorções subjetivas podem ser tão lúcidas
quanto verdades objetivas

pululam pelas preces dos beatos
todo tipo de troça malfazeja
sob um manto de luz, só avareza
aqueles que não reconhecem a própria sombra
são os piores canalhas à mesa

caminhamos lado a lado com nossos duplos cegos
em exames minuciosos de exatos desatentos
navegando nas duas correntes
os dois dedos na tomada de força do universo
as vitórias sutis e as memórias imbecis
são galhos de uma trilha tortuosa, serpentina, calorosa

atos falhos de uma jornada duvidosa
fazem sentido na encruzilhada luminosa
onde o ser encontra a si
e a angústia tem um fim

>ever endeavor end>

Shintaro Kago


disfarçando couro velho

com a tinta do futuro

negro alvorescer

distante da trapaça

cada olho uma ameaça

cada medo uma caçapa

costurando as máscaras

de um novo jogo poético

intrigas patéticas

entranhas proféticas

perfurando a veia da manhã

para beber a luz do dia

e babar sua ambrosia

líquido moderno fluido sempiterno

e a pele roída mordida cansada

troca sua casca dilacerada

capa de escamas cromadas

armadura aposentada

novos movimentos estranhos reflexos

estala o nó no nódulo convexo

coluna teimosa resina pastosa

fumaça quase sólida

menos ou mais químicos

no seu cotidiano

cronométrico organismo

pesos e medidas

doses e feridas

dedos e tangências

tocando consciências

segredos transparências

invertidos planos abertos

sequências sonoras sonolências

códigos impérios poemas

catalizações catalépticas

antenas corneovasculares

pulsações magnas elementares

prática eletricidade estática

como uma teia

tece a ponta pineal

areia que escorre

pelos planos do sólido

o real

sistemas abstratos

tensões geométricas

entre corpos lançados 


entrelaçados

copos enxugados

sedes derretidas

esferas refletidas

no absurdo de um

um

um

um

Realeza?

Desde quando o leão é o rei da selva? 

Só porque ele é grande e feroz e mata todos os outros bichos? 

As hienas matam leões também. Inclusive, a mordida delas é mais poderosa que a dos leões. 

E tem outra: humanos não matam hienas por esporte, mas matam leões. 
A hiena come toda e qualquer coisa. A hiena prevalecerá. 

Quando o último leão majestoso for morto por uma bala humana ou levado à inanição pela destruição de seu ambiente, a hiena vai comer seu cadáver e moer os ossos com seus dentes mecânicos. 

Eu prefiro gatos a cães, mas não tenho como negar a implacabilidade desses caninos selvagens, com suas risadas carniceiras e sua força bruta. 

Talvez o ser humano tenha denominado o leão como rei para invejá-lo. Para em seguida poder dominá-lo e dizer "EU sou o rei".

Mas não inveja a hiena. Ele não reconhece, mas está lado a lado com ela nessa visão distorcida de conto de fadas sobre a natureza. 

Não é à toa que sobre os sons da hiena o humano projetou sua própria risada. 

Afinal, que outro animal realmente ri? Não o rei. 

Só o ser humano é capaz de dar uma risada aguda e patética e em seguida enterrar seus dentes, metafóricos ou não, no pescoço de outro animal -  humano ou não. 

Iris Braun