máquina humana

Trecho de notícia retirado do portal R7:

7/10/2014 às 09h52 (Atualizado em 7/10/2014 às 10h25)

Bebê é abandonada dentro de máquina de lavar cercada de urubus em Oriximiná (PA)

Eletrodoméstico havia sido jogado no lixo; ainda não se sabe quem é a mãe da criança

Uma bebê recém-nascida foi encontrada em uma máquina de lavar jogada no lixo em Oriximiná, no Pará. A menina foi localizada por uma mulher no momento em que urubus sobrevoavam o local.

(...)

Presa da engenharia de fluxos. Criança malvinda do futuro congestionado. Há um tempo, pesquisando pelas palavras que compõe o conceito-constructo que é o título desse blog, encontrei essa notícia. Eu esperava que ela me inspirasse para algum escrito, o que só aconteceu vários dias depois, nessa insólita manhã insone. Aqui está:

                                                                                                                     Rob Thomas

Ser humáquina. Templo carcinogênico, corpo transgênico. Cem mil células de agressão. Produtividade de pulsões ininterruptas. Artérias de aço no encanamento da justiça, os esgotos da ética como sustância imunda, substância inoculada no útero sintético pelo cabo umbilical de retroalimentação psicossocial.

Um encontro fortuito de uma mente estagnada com um destino mecânico. Soluções trágicas para um fim programado. Um filme prostrado. Ideias cinemascópicas esvanecendo pelo ar da memória. Fumaça invisível que permeia os cérebros. Mistério miasmático que embala os corações decrépitos. Essência do sono em constante espreita energética, na periferia do halo luminoso da vigília. Doce vapor roxo da solidez da insanidade, sabor vivaz da consciência, a insalubridade da solitude. O paradoxo tóxico do oxigênio, demanda molecular dos segundos vitais, exigênio exigindo a dívida do respirar. Mas ele ainda paira no ar, nos anestesiando sutilmente. Garras de vidro dedilhando um piano congelado sob a chuva de guarda-chuvas. O delírio é um paquiderme enjaulado nas trapaças da lógica.

Onirismo. A invasão da dimensão maquínica pela inversão da ilusão clínica. O absurdo se mostra pelo que é: real. Paradigmas e protocolos, gravatas e cartolas, sádicos e carolas - acalorados em seus discursos vociferantes, amplificados pela máquina de propagada global, metralhadoras de sentido, juízes de significado, palavras larvas que infectam frutos imaturos. Sonhos corrompidos em crisálidas opacas, dando luz a monstros sulfurosos,  ideias de calibre bélico, fantasias de dominação, hipertrofia do medo, epidemia do pavor, nervos primitivos seguindo os instintos, o ataque prévio para evitar a dor, a paranoia mais estúpida para diluir o rancor. Cruzadas maniqueístas conduzidas por fantoches, sangria garantida para o solo faminto. Florescem floras de sangue supérfluo e os rebanhos se acirram sem raciocinar

Meu olho vermelho vê melhor por dentro mergulhado no salgado mar da mente. Submergindo do sub-quociente para as camadas proibidas da desordem latente. Velejar cardíaco pelas rotas animortas. O limiar que jaz entre o espaço e a esfera, o desejar escasso entre a esperança e a espera. Deste não-mundo retiro filamentos espectrais semelhantes a antenas de crustáceos, componente de um aparato neurótico experimental. Seu propósito? Classificado. Informação indisponível. O sigilo é um espírito que assombra o espírito. Algoritmos coadjuvantes de uma visão alucinada. A luz é o nada.



                                                                                          Yasuo Shingo