love your void

Uzumaki (Junji Ito)

we're information junkies
just saturated monkeys
nihilistic hedonistic
histrionic so moronic

self absorbed and self important
allow me to indulge into your ears
just dump my load of cynicism and fear
I lost control, I'm scattered in pieces
my farse is cracking the lies are bearing
going in circles
forget the light
the sound and the fury that lie in my heart

how could have I become
this shell of a machine
devoid of any meaning
phantasmatic parasyte
animalistic enterprise
just a host or a cocoon
of something ugly
doomed and fool

poisoning my body and my soul
slowly burning in the pyre
energy
light
matter
truth
junk food for the brain
counterintelligence
toxic knowledge
dealing in metaphysical coal
blood diamonds of the dead
open sores dripping cold
sacred trash in the waste of old
skeletal magnetic
forgetfulness repented
not apologetic
history repeated
and I can see it all
false and flawed
what good is it
inside the dirty nest
that is my skull
ravens perching on my soul

does it look dead?

HERACLES 2 OU A HIDRA - HEINER MÜLLER

Esta é a transcrição completa de uma alucinante prosa poética do dramaturgo alemão Heiner Müller, já presente por aqui. Decidi não dar respiros ao texto inserindo imagens ou espaços para manter a continuidade vertiginosa e o ritmo progressivo que creio fazerem parte dessa experiência. Coloque uma música longa e viajada, respire fundo e vá nessa. A batalha o espera.

                                                                                                                                                   Alex Grey

Ele acreditou por muito tempo que ainda atravessava a floresta no vento entorpecedoramente quente que parecia soprar de todos os lados e balançava as árvores como serpentes, no imutável crepúsculo do rastro de sangue que mal se via sobre o chão simetricamente oscilante, sozinho com o animal na batalha. Nos primeiros dias e noites, ou eram apenas horas, como ele poderia medir o tempo sem céu, ele ainda, às vezes se perguntava o que poderia estar debaixo do chão, que sob seus passos movia ondas como se respirasse, quão fina a pele sobre o desconhecido, e quanto tempo ela o tiraria das entranhas do mundo. Parecia-lhe, quando ele pisava com mais cuidado, que o chão no qual ele acreditava que cederia ao seu peso vinha de encontro ao seu pé, até mesmo o atraía com um movimento de sucção. Ele também teve a nítida sensação de que seus pés ficaram mais pesados. Ele contou as possibilidades. 1) Seus pés ficaram mais pesados e o chão sugava seus pés. 2) Ele sentia seus pés ficarem mais pesados porque o chão os sugava. 3) Ele tinha a impressão de que o chão sugava seus pés porque eles ficaram mais pesados. As perguntas ocuparam-no por um tempo (anos horas minutos). Ele encontrou a resposta na progressiva sensação de vertigem causada pelo vento que soprava concentricamente: seus pés não estavam ficando mais pesados, o chão não estava sugando seus pés. Tanto uma como a outra eram uma alucinação devido a sua pressão sanguínea que caía. Isto o tranquilizou e ele andou mais rápido. Ou só acreditou andar mais rápido? Quando o vento aumentou ele foi tocado com mais frequência no rosto pescoço mãos por árvores e galhos. O contato era antes de tudo agradável, um carinho ou como se eles provassem a suavidade de sua pele, se bem que superficialmente e sem algum interesse especial. Então a floresta pareceu ficar mais densa, o estilo do contato transformou-se, o carinho converteu-se em uma medição. Como em um alfaiate, ele pensou, quando os ramos envolveram sua cabeça, depois o pescoço, o peito, a cintura etc., a floresta parecia estar interessada até mesmo em seu passo, até que eles o mediram da cabeça aos pés. A maneira automática como isto ocorria irritava-o. Quem ou o que guiava o movimento destas árvores, galhos ou, o que sempre lá estava interessado no número do seu chapéu medida do colarinho tamanho do sapato. Poderia esta floresta, que não se comparava a nenhuma floresta que ele tinha conhecido e “atravessado”, ser afinal, ainda, denominada floresta. Talvez ele próprio já estivesse muito tempo a caminho, por uma era, e florestas eram afinal apenas o que esta floresta era. Talvez a denominação não fizesse mais que representar uma floresta e todos os outros sinais tornaram-se há muito, aleatórios e substituíveis; também o animal que para matá-lo, ele percorria esta realidade ainda provisoriamente denominada floresta, o monstro a ser morto, que havia transformado o tempo em um excremento no espaço, era apenas a nomeação de algo não mais conhecível, um nome tirado de um livro velho. Somente ele, o anônimo, permaneceu idêntico a si na sua longa e suada travessia pela batalha. Ou também era diferente dele aquilo sobre suas pernas, estas sobre um chão que dançava cada vez mais rápido. Ele pensava ainda nisto quando a floresta agarrou-o novamente. A realidade estudava seu esqueleto, número, força, disposição e função dos ossos, a ligação das articulações. A operação era dolorosa. Ele esforçou-se para não gritar. Jogou-se para frente com um impulso para fora desse abraço. Ele sabia que nunca tinha corrido tanto. Ele não deu mais um passo sequer, a floresta interrompeu a velocidade, ele ficou no cerco que se formou agora em volta dele e que comprimia suas vísceras, esfregava seus ossos, quanto tempo ele poderia aguentar a pressão, e compreendeu no pânico crescente: a floresta era o animal, há tempos tinha sido a floresta que ele acreditou percorrer, o animal, que o conduzia no andamento de seus passos; as ondas do chão, sua respiração e o vento, seu ar, o rastro que ele seguia, seu próprio sangue, do qual a floresta, que era o animal, tirava suas provas, desde quando, quanto sangue tem um ser humano. E que ele sempre o soube, só que sem nomes. Algo como um relâmpago sem começo nem fim descreveu com sua circulação sanguínea e nervos um circuito incandescente. Ele se ouviu rir quando a dor assumiu o controle de suas funções corporais. Isto soou como um alívio: nenhuma reflexão mais, era esta a batalha. Adaptar-se aos movimentos do inimigo. Afastar-se deles. Antecipar-se a eles. Ir de encontro a eles. Adaptar-se e não se adaptar. Adaptar-se através da não adaptação. Atacar recuando. Recuar atacando. Ao primeiro golpe garra pontada antecipar-se, ao segundo retroceder. Vice-versa. A sequência muda e não muda. Ir de encontro ao ataque com o mesmo e (ou) outro movimento. Paciência da faca e força dos machados. Ele nunca contou suas mãos. Ele não precisava contá-las agora. Por toda parte onde sempre quando precisou delas elas fizeram o seu trabalho, pulsos se necessários, os dedos, um a um, disponíveis, as unhas à parte, os cantos do cotovelo. Seus pés sustentavam-no na revolta contra a gravitação do chão que rodava cada vez mais rápido, a ligação do inimigo ao campo de batalha, o colo que queria abrigá-lo. A velha equação. Todo colo no qual ele veio de alguma forma cair quis, vez por outra, ser seu túmulo. E a velha canção. AH FIQUE COMIGO E NÃO VÁ EMBORA NO MEU CORAÇÃO ESTÁ O MAIS BELO LUGAR. Escandida pelo estalar de sua cervical na sufocante garra maternal. MORTE ÀS MÃES. Seus dentes lembraram-se do tempo antes da faca. Na confusão dos tentáculos que não se distinguiam das facas e machados giratórios, na das facas e machados giratórios que não se distinguiam dos tentáculos, na das facas machados tentáculos que não se distinguiam das explosivas zonas minadas tapetes de bombas reclames luminosos culturas de bactérias, na das facas machados tentáculos zonas minadas tapetes de bombas reclames luminosos culturas de bactérias que não se distinguiam das suas próprias mãos pés dentes no lapso de sangue gelatina carne provisoriamente denominado batalha, tanto que para golpes que, às vezes, lhe ocorriam contra a própria substância, a dor, ou melhor, o súbito aumento das incessantes dores rumo ao não mais reconhecível era o seu único barômetro, no contínuo aniquilamento sempre novamente voltando às menores partes de sua construção, sempre se recompondo das suas ruínas numa contínua reconstrução; às vezes, ele juntava mal as partes, mão esquerda no braço direito, osso ilíaco nos ossos do braço, na pressa ou por distração ou aturdido pelas vozes que lhe cantavam no ouvido, coros de vozes FIQUE NOS LIMITES DESABAFE DESISTA ou porque lhe era maçante, sempre a mesma mão no mesmo braço cortar tentáculos sempre crescentes cabeças atrofiadas pescoço, trazer dos membros o que resta para cima, colunas de sangue; às vezes, ele retardava sua própria reconstrução, avidamente esperando pelo total aniquilamento com esperança no nada, a pausa interminável, ou talvez por medo da vitória que só seria atingida pela total destruição do animal que era sua morada; fora isto, o nada talvez já esperasse por ele ou por ninguém, no silêncio branco que anunciou o início do ciclo final, ele aprendeu a ler o sempre outro plano de construção da máquina que ele parou de ser novamente era outro com cada olhar garra passo e que ele o pensou mudou escrito com o manuscrito de seus trabalhos e mortes.


Tradução: Milton Camargo Mota

Presente em Medeamaterial e outros textos – Editora Paz e Terra (1993)

A antena da farsa


É demencial. Parece que aqui não precisamos de um ataque terrorista para atualizar o papel do inimigo. Aqui o papo do século XX de ameaça comunista ainda cola. Essa histeria macartista tão ultrapassada ainda está viva e respira, como um miasma infeccioso. Hoje propagado por robôs virtuais, perfis fakes e máquinas de likes, inteligências artificiais da propaganda violenta, verdadeiros vetores da desinformação. Armas criadas nas últimas eleições para automatizar e otimizar a proliferação da publicidade política, dos boatos, da difamação e que ainda estão em ação. [1]

Hoje os países de terceiro mundo, referido com o eufemismo higiênico de países em desenvolvimento, não precisam ser alvos de ataques de falsa bandeira, golpes de estado violentos, invasão militar - talvez no Oriente Médio e na África, né? - mas para manter a hegemonia, as potências ocidentais tem métodos mais eficazes e adaptados para subjugar e desestabilizar regimes nacionais que não acatam às suas políticas de submissão aos bancos e fundos monetários internacionais e seu escudo ideológico da teoria neoliberal. Qualquer sinal de intervenção do estado já é o suficiente para mobilizar as forças histéricas do anticomunismo, onde essa retórica ainda pode funcionar. A economia é capaz de subjugar porque cria desespero, amplificado pela mídia para mobilizar o povo para pedir por uma solução - e a solução não é nada mais do que o plano original: manter a ordem estabelecida, atualizá-la, melhorá-la, dar uma limpada. [2]

A Segunda Guerra nunca acabou. Porra, na real a Primeira não acabou. Ela só se sofisticou, ficou mais cirúrgica, terceirizada, localizada fora do jardim onde as crianças brincam. O capital financeiro e seus mecanismos são a evolução lógica para o domínio geopolítico e econômico global. O movimento de desregulação não tem como objetivo criar um livre mercado para o cidadão comum empreender, ele serve para afrouxar as toscas amarras que constrangem com impostos e direitos sociais as grandes corporações - que são as maiores parceiras, ou melhor, usuárias do estado. A burocracia e o capital, as finanças e as leis são elementos afins que se misturam para manter a estrutura hierárquica da plutocracia internacional. A desestabilização político-econômica da América Latina é uma política de longa data, desde a doutrina do Big Stick, o Cacetão. Ela é muito mais fácil quando o próprio sistema político desses países é composto por oportunistas que agem apenas por seus interesses e de seus patrões que não tem nenhum constrangimento em participar da derrocada das próprias instituições democráticas que ele supostamente representaria. [3] [4]

Ideologia é uma substância pegajosa que está espalhada por tudo. Ironicamente, aqueles que se dizem independentes, apolíticos, livres de ideologia estão cobertos dela. Falo desses que acreditam que estão lutando contra o mal encarnado na figura da corrupção encarnada na figura de um partido, daqueles que se dizem contra todo partido e não percebem que não existe aí nada de novo. Forças reacionárias e anacrônicas com um discurso anticomunista decrépito não se veem como inseridos no espectro político. Se veem como vanguarda, como moralização, como uma terceira via. Essa primavera populista encapsulada na fina flor que chamamos fascismo. É assim que funciona, assim que funcionou. E eu aqui, no meu barco furado, não falei nada sobre isso nesse blog até o momento derradeiro onde o processo político do impeachment da presidente se concretiza. Omisso? Talvez. Isentão? Não tenho essa ambição. Todo esse teatro deprimente da democracia representativa me dá náuseas não é de hoje. Capítulos de novelas institucionais, escândalos de personagens parlamentares, tudo isso é tão enfadonho e maçante. Não digo que não é importante. Mas é uma questão de onde você quer focar seu olhar. Eu procuro enxergar o contexto geopolítico em que esse teatro nacional acontece. A configuração macroeconômica do mundo, as redes de inteligência, a indústria da guerra, a aglutinação das oligarquias que usam seus mecanismos de poder para prevalecer no topo. Não é um governo de centro-esquerda que já tomava medidas econômicas neoliberais que iria frear isso, mas o momento internacional é urgente. É preciso suprimir qualquer ameaça de autodeterminação de qualquer povo ou nação, democracias são fantoches para os mesmos senhores.

Escrevi esse texto mais por pressão. Uma pressão atmosférica que exala da TV, que transmite simultaneamente para milhões de lares transfixados pela fascinação da grande política em ação. Auge da civilização. Os delírios presentes nesse site, a poesia, a cultura, o sonho, não são alienados de seu contexto. Quem o lê, sabe. E é por isso que me dedico aqui mais a eles, pois por mais etéreos que pareçam, são mais duradouros que os poliedros da justiça e os palácios da política e seus palhaços sem lírica. Estejamos atentos ao jogo, mas com uma perspectiva estratégica. Perceber o movimento das peças e a que mãos estão ligados os dedos que as movem. E destas mãos, procurar as articulações, veias e ossos que compõe os seus membros. O corpo social do mundo é um mapa imenso, e ser um dos anticorpos de seu sistema imunológico não é o meu papel. Faço daqui uma cartografia de meu ponto de vista de urubu mecânico, respirando ares mais rarefeitos que melhor me satisfazem, atento à pulsação das ruínas.

[1] apublica.org/2015/06/a-direita-abraca-a-rede/
[2] outraspalavras.net/brasil/o-brasil-no-epicentro-da-guerra-hibrida/

[3]
http://www.globalresearch.ca/regime-change-in-brazil-right-wing-protest-movement-funded-by-us-billionaire-foundations-training-in-us/5515204
[4]
midiacoletiva.org/sobre-kim-kataguiri-e-agenda-para-vender-o-brasil/

Tubarões voadores

                                                                                             Luiz Gê               

Espetáculos Espectrais - Romance, de Sérgio Bianchi

"O trabalhador culpa ao chefe. O chefe culpa ao gerente geral. O gerente geral culpa ao trabalhador, ao chefe e ao dono da empresa. O dono da empresa culpa a todos, não é? Mas principalmente ao fornecedor da matéria-prima. O fornecedor da matéria-prima culpa a falta de incentivos do governo, o governo atual culpa o governo passado e a oposição continua culpando o governo mas principalmente a falta de compreensão do povo. Enquanto isso, o verdadeiro culpado assiste a cena de longe às gargalhadas - geralmente com sotaque - porque ele sabe muito bem que todos têm razões de sobra pra se culparem mutuamente e assim deixá-lo em paz." - Antônio Cesar nos primeiros segundos do filme


Romance (1988), de Sérgio Bianchi, é um retrato áspero do Brasil em sua época de democratização. Enquanto o otimismo político de alguns pululava pelas ruas, Bianchi mostra o cenário que se perpetua mesmo com a abertura democrática: a permanência das elites, o moralismo pós-moderno, a AIDS, o neoliberalismo implacável, a força das indústrias que coordena os esforços como os do agronegócio, dos automóveis e das farmacêuticas num escrachado conluio com o poder público. Um Brasil que permaneceu e permanece.

Antônio César é um intelectual de esquerda que estava escrevendo um livro que iria revelar todo esse grande esquema de maneira explosiva. "Ele foi escritor, poeta, jornalista, cineasta, publicitário, e no entanto, toda essa obra riquíssima está meio espalhada por aí, meio perdida nesse nosso país desgaçadamente sem memória", diz em certa altura um deputado que teve um passado conflitivo com o autor. Ele morreu em circunstâncias duvidosas e os manuscritos de seu livro bombástico sumiram. Maria Regina, uma pesquisadora e admiradora do autor, começa uma investigação própria sobre o conteúdo do livro que ele escrevia e sobre as circunstâncias da sua morte. Ela se torna uma mulher que fica sabendo demais, e em certo ponto seu destino só pode ser o extermínio ou a cooptação, sua forma mais sutil.


O filme se desenrola em cenas fortes, típicas dos filmes de Bianchi, em que cada take contém uma fórmula inflamável do escancaramento. Provocação não, é a realidade. Mas a realidade social incomoda, ela é amarga, traz desgosto. O cinema de certo serve só pra divertir com um tom leve e dramático. Deve ser isso que pensam os que classificam Bianchi como um provocador. Assim como seu protagonista póstumo, Antônio César, que aparece em diversos vídeos em que aparece na mídia e que ele gravou de si mesmo, o diretor quer desvelar a ilusão de uma brasilidade festiva e mostrar o que há por baixo: a preservação das mesmas estruturas coloniais pintadas de democracia, a fábrica de doenças e decadência que envenena a cada um e ao meio ambiente, o moralismo hipócrita da classe média que acha que manda usado de escudo e de tapa para sua visão, excluindo a periferia de sua percepção e mostrando o caminho que deve seguir para não se amedrontar com o mundo à sua volta, sempre em frente, obediente, em ordem rumo ao progresso.


O diretor definitivamente tem uma assinatura própria, seu estilo não ortodoxo de condução das narrativas resulta numa metralhadora semiótica de agudas percepções do âmago da frágil humanidade de cada um. Lampejos esclarecedores de uma realidade que está tão na nossa cara que nos anestesiamos dela, ao contrário de um cinema onírico das fantasias, o cinema de Bianchi é um cinema do despertar. Ele mostra como todos nessa sociedade moderna estão enredados em contradições estruturais e culturais que não podem ser facilmente reduzidas ou resolvidas. A cinematografia do diretor sempre consegue fazer muito com pouco. Não são produções cheias de recursos e truques caríssimos para dar uma cara mais vibrante e sedutora, que geralmente dá o verniz superficial da comercialidade para um filme. A beleza da cidade crua, das pessoas nuas - psicológica e fisicamente, em suas interações absurdas consigo mesmas e com as outras, de um Brasil cronicamente inviável, das fugas que dão em becos sem saída. O filme foi filmado em São Paulo e em Curitiba, e tenho que ressaltar a memorável cena em que Antônio César destrói o gabinete do deputado já citado, atirando até sua mesa da janela do último andar do histórico e hoje restaurado Paço da Liberdade, no centro da capital paranaense. A vivacidade do vandalismo do personagem captada na destruição real de todos os objetos do escritório é uma representação literal da força discursiva de seus filmes. E claramente Bianchi tinha os contatos certos para conseguir vandalizar uma sala desse importante prédio histórico.


Chegando no fim do filme, há uma espécie de interrupção do gênero discursivo ficção para inserir uma montagem documental de caráter explicitamente didático que explica a urbanização do Brasil, o processo de proliferação de favelas desde a expulsão de camponeses pobres de terras de latifúndio, passando pela monocultura de cana e produção de álcool, envenenamento de rios e uma tragédia anunciada fruto das terríveis condições de vida às margens da civilização industrial. Onde está a barreira da ficção? Ela se diluiu. Se já não ficou claro, nesse momento o filme se revela como uma denúncia, um enfrentamento real - contra o real, contra a configuração absurda e cruel dessa sociedade plutocrática. Fico pensando o que ele quis com esse título: Romance. Atrair incautos para uma teia que os envolve num enredo fatal? Quem sabe a vida crua que o filme nos mostra seja o romance, o romance verdadeiro? Talvez uma reverberação do trágico romantismo clássico da literatura, em que pessoas angustiadas chegavam ao ponto do suicídio e do assassinato devido à intensidade de suas emoções exacerbadas? Um combustível para a revolta, para uma tomada de posição? Insurreição ou sujeição? Veja o filme.

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Soft and gentle, sentimental
Hard as nails, and scissor mental
We want to be the ones who let you know
We've got a surprise for you

A savage eye and a carving knife
Frozen chaos, and a bloodshot life
A hungry insect and the way it stings
These are a few of my favorite things

Invisible signs that control your mind
And a person wants to take you away
Between the lines like the inferno
To pretend to know the way of the play

Soft and gentle, sentimental
The way of the play is incredible
My mood dictated by the wind that blows
And the dice that rolls

I am surrounded by the things I love
A dying creature and a chainmail glove
Inebriation and the joy it brings
These are a few of my favorite things

Soft and gentle, sentimental
Hard as nails, and scissor mental
We want to be the ones who let you know
We've got a surprise for you

A savage eye and a carving knife
Frozen chaos, and a bloodshot life
A hungry insect and the way it stings
These are a few of my favorite things
A hungry insect and the way it stings
These are a few of my favorite things

PTP é um projeto paralelo de Al Jourgensen, da veterana banda de metal industrial Ministry. O EP Rubber Glove Seduction que contém essa música foi lançado para disponibilizar o som do projeto que surgiu para fazer uma música para a trilha sonora do primeiro Robocop em 1987. A capa do disco ironicamente escracha o apelo comercial de estar envolvido com uma produção de Hollywood, típico Al.



Puro fetiche da mercadoria.