A arte de H.R. Giger

"Eu pensei muito sobre a escuridão. Muito, e agora eu sei, que eu mesmo sou um vampiro. E você também, caro ouvinte, é um vampiro. E agora eu me pergunto, se toda existência nesse planeta não é vampírica.  Claro que é! Agora pense na extensão desse reconhecimento. Para mim não existe quase nada mais assustador. Bem-vindos à noite."
- H.R. Giger


Dedico essa postagem ao grande artista que ilustra a imagem de fundo deste blog. A obra de Giger penetrou no imaginário coletivo através da cultura pop. O design do terrível xenomorph para o filme Alien (1979) tornou a obra do obscuro suíço conhecida em todo o mundo. Sua visão única e sua técnica rigorosa lhe conferem o justo reconhecimento como um artista singular que conseguiu expressar, em suas pinturas e esculturas, imagens que ilustram processos profundos da psique humana.



As obras de Giger são essencialmente monocromáticas, com pouco uso de cores. São desenhos, pinturas e esculturas com uma grande carga biomecânica e psicossexual, cuja consistência obcecada durante décadas demonstra a persistência do autor em passar sua visão aterradora e fascinante para o mundo. Uma fase de sua produção foi influenciada pela leitura de autores ocultistas como Aleister Crowley e Eliphas Levi. Representações simbólicas, figuras religiosas e mitológicas e a dinâmica da energia sexual estão sempre presentes nas paisagens oníricas do artista, entre os intrincados esquemas de seu pesadelo espírito-industrial.


                                 

A obra abaixo foi produzida no auge do pavor criado pela constante tensão da Guerra Fria, quando todo dia era dia para um possível holocausto nuclear. As exposições do autor em seu país natal causaram tanto choque que eram constantemente degradadas pelas pessoas, com cuspe, comida e até merda. A pintura Atomic Children, de 1967, trouxe à tona os horrores psicológicos frutos da ansiedade atômica.


A estética biomecanóide criada por H. R. Giger captura o momento histórico da humanidade no século XX. A transmutação da esfera humana natural em um constante híbrido com a tecnologia, resultado do desenvolvimento científico desenfreado, expõe o homem invadido pela esfera mecânica, uma criação não mais submissa a seu criador. Esse processo não tem volta e submete a todos a uma realidade cada vez mais determinada pelos desígnios de uma sociedade industrial absurda e inumana.





O instinto pela reprodução e sobrevivência da espécie é retratado como é, um impulso maquinal-biológico frio e selvagem. A banalidade da vida num planeta superlotado está impressa em diversas obras, algumas mostram paisagens infindáveis de inconscientes e agonizantes rostos de bebês, como frutos sem futuro de uma lavoura malograda. A obra abaixo, Birth Machine, ganhou uma versão tridimensional e está exposta, entre outras incríveis esculturas e instalações, no H.R. Giger Museum, em Gruyéres, nos alpes suíços.


Giger morreu em 2014, aos 74 anos. Contribuiu com o design de filmes, capas de discos, videoclipes e até mesmo um jogo eletrônico chamado Darkseed, lançado em 1992. Através de sua penetração na cultura pop, o vírus biomecânico de Giger infectou uma legião de admiradores e inspirou gerações de artistas. A influência sombria de sua obra certamente não definhará tão cedo. Pois os pesadelos que habitavam sua mente foram projetados no nosso grande sonho coletivo, e suas criaturas alienígenas, porém tão íntimas, continuarão a se reproduzir e dar luz a inomináveis criações.



"Até onde eu sei, não há mais ninguém lidando com o horrível com tanto afeto quanto Giger. (...) É belíssimo o que ele pinta, e o horror é tão belamente apresentado que ele perde seu pavor."
                                                                                                                                               - Ernst Fuchs

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