Jaguaribe Carne - Alimento para a Guerrilha Cultural


Documentário de 2007 que conta a trajetória do grupo.

Jaguaribe Carne não é uma simples banda. É um extenso projeto de militância social cuja expressão musical se manifesta com diversos tons. Desde os anos 70, Paulo Ró e Pedro Osmar agregam todo tipo de gente na plataforma Jaguaribe Carne, no bairro Jaguaribe em João Pessoa, capital da Paraíba.

"Liberdade
Liberdade
É o único sentimento de revolta"

No quintal da casa de Dona Madalena, o barulho que os jovens irmãos Pedro e Paulo faziam não era brincadeira. Ou melhor, era. Eram experimentações com objetos comuns, latas, panelas, copos e corpos, tudo que estivesse à mão. As sonoridades e ritmos improvisados abriram caminho para a expressão musical e poética. Com o tempo, o projeto cresceu e começou a atuar fora da esfera sonora. Não vou desenhar só porque "não sei desenhar"? Não vou fazer um poema porque não sei escrever algo catedrático? Pro diabo! A atitude de quebrar com a fragmentação da expressão artística provocava as pessoas a se apoderarem das diferentes formas de comunicação e arte.  

"Dalva me falou
Dalva me falou
Que estava cansada de ficar quieta
Que estava cansada de ficar quieta
E vocês
E vocês
E vocês
O que me dizem?"

Cada capa do disco instrumental de 1983 é única. Depois da impressão em capa branca com o logo da banda, o grupo incentivou que cada pessoa que pegasse um disco fizesse nele uma intervenção própria.
A democratização do conhecimento, a mobilização popular e a transgressão do estabelecido são ações que não se reduzem à música. Guerrilha cultural é o conceito evocado pelo grupo para explicar o espírito do seu movimento. A provocação sempre foi a tônica de Pedro Osmar para despertar o desejo de ação. O projeto Fala Jaguaribe, começado em 1982, teve como uma das sedes a casa de dona Anunciada, que servia para agregar crianças e jovens da região ávidos para construir uma movimentação popular. Mutirões de pintura, oficinas de percussão criativa e as mais diversas intervenções artísticas ocuparam ruas de João Pessoa.

"E vem no vento
E vem na cor
E vem de dentro
E vem da dor"


Para o Jaguaribe Carne, música popular não é aquela estabelecida comercial ou tradicionalmente. Pelo contrário, é música livre dos padrões estéticos estabelecidos. É música experimental, música manifesto, canção de protesto. É barulho, cacofonia, ruído, vocalização. É exploração de territórios sonoros normalmente ignorados, é abertura dos ouvidos para sonoridades estranhas, é incentivo à criação independente da padronização. Baião e música concreta, samba e rap, psicodelia e lambada, marchinhas de carnaval e dodecafonias dançam de braços dados em suas composições ousadas e provocadoras.

"No exercício de voar
É fazer rima com as palavras
É pousar na imaginação
Das asas das asas das asas das asas"


O álbum Vem no Vento, lançado em 2003, conta com a participação de consagrados artistas nordestinos e músicos independentes que acompanham a jornada do grupo há décadas. Lenine, Elba Ramalho, Chico César e Zeca Baleiro são só algumas das figuras que somaram na criação deste disco único.

"Ô meu povo agora
Braços dados ora
Na coragem grita
Me dá me dá
Grita está na hora
Ô meu povo teima
Conquistar a terra
Sem ter medo avança"


Abaixo estão duas músicas dessa obra prima que é Vem no Vento, de onde tirei os trechos das letras que pontuam este texto. Mas esse é um disco para se ouvir inteiro, várias vezes e por muito tempo! Por isso aqui está o link para o download do álbum, disponibilizado pelo blog Música da Paraíba. Como não achei as letras na internet, transcrevi de ouvido mesmo. Você pode acessá-las aqui.


                                     

Aos que se Foram - Totonho e Pedro Osmar

Ligados na modernidade medieval
Elefantes de palha dessa indústria de cosméticos!

Por que você fez isso meu irmão?
Por que você fez isso meu irmão?

Ateando fogo à roupa no meio da multidão
Desesperado sem trabalho, sem saúde
sem morada, sem viver
Vendo a família sofrer
E sabendo que o país desse governo
Não vai a lugar nenhum

Me deu um nó no peito meu irmão
Me deu um nó no peito meu irmão

Não é assim, não é assim que se faz
Não é jogando a vida embaixo de um caminhão
Não é pulando do edifício se estatelando no chão
Que você vai resolver o problema da família
Que vive um mau momento
Envergonhado de ver seu pai pedindo na rua
Envergonhada de ver sua mãe se entregando nua
Pra pelo menos garantir
Um pouco desse feijão, um pouco dessa farinha
Um pouco desse feijão, um pouco dessa farinha
Que ora está na mesa, que ora está mesa

É duro ver um amigo nesse chão
É duro ver um amigo nesse chão

Depois de acreditar na Lei
Depois de acreditar em Deus
Depois de tanta Democracia
Depois de tanto Carnaval

Depois de acreditar na Lei
Depois de acreditar em Deus
Depois de tanta Democracia
Depois de tanto Carnaval

Por que você fez isso meu irmão?
Por que você fez isso meu irmão?
Por quê? Por quê?
Me deu um nó no peito
Por que você fez isso?
É duro ver um amigo nesse chão
Me deu um nó no peito
Por que você fez isso?
É duro ver um amigo nesse chão
Por que você fez isso meu irmão?
Por que você fez isso?
Me deu um nó no peito




Delírio de Gari - Diana Miranda, Paulinho Ditarso, Paulo Ró e Pedro Osmar

Os urubus são aves do paraíso
Os urubus são aves do paraíso

Os anjos são urubus travestidos
Os anjos são urubus travestidos

Os urubus são aves do paraíso
Os urubus são aves do paraíso

Os anjos são urubus travestidos
Os anjos são urubus travestidos

Dê-me ao luxo de catar isso
Dê-me ao luxo de catar isso
Dê-me ao luxo de cada isso


Um comentário:

  1. Ola boa noite, vc vende o Jaguaribe carne? thiagomarques30@gmail.com

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