...
Fumando uma idéia
dentro desse açougue metafísico :
É quase impossível
não pensar no paradoxo
quando irrompe nas esquinas,
a humanidade
com sua corrompida verticalidade
que jamais se tornará o diamante
...
Contra o Nazismo Psíquico, lançado em 2013 no soundcloud direto de Cubatão, é um álbum explosivo. Poesia, política e magia se encontram nessa encruzilhada do Universo para atacar as forças do autoritarismo psíquico vigente,
"todas as tentativas de controlar, limitar ou destruir o caos formam a essência do nazismo psíquico". Mas o caos é indestrutível.
O nazismo psíquico se alimenta da diluição da angústia em um pragmatismo
ou utilitarismo disfarçado de ética-estética do vazio que por sua vez
se alimenta da lógica do possível imediato da ditadura das coisas.
Esses dois últimos fragmentos são excertos do manifesto que é a faixa título do álbum, mas somente um vislumbre dessa obra. Os poemas e a voz de Marcelo Ariel soam como um Gil Scott-Heron ("a revolução não será televisionada") em sua cadência falada, declamada, sem entonação melódica e sem pretensão de canto. Pra que canto? A presença da música negra e ambientes soturnos nos beats elaborados por Ismael Sendeski, Kleber Nigro e convidados dão força para os versos/cosmogramas de Ariel, que ostenta na manga suas influências. O álbum antropofágico reverbera diversas inspirações: os beatniks e poetas marginais brasileiros como Roberto Piva e Waly Salomão, o terrorismo poético de Hakim Bey, análises situacionistas e complexas leituras filosóficas, políticas e esotéricas são codificadas num fluxo ininterrupto.
O que escreve poemas, profere a sentença
do fundo do balcão de negócios
de altos negócios:
A polícia é o dragão de 3 cabeças
Os comandos são a cauda.
O que escreve é um poeta enterrado em Marcola
como Dante em Savonarola
À direita do dragão:
Advogados e seus chicotes de retórica
(A mesma desde Quintiliano)
(Brasília-DF)
Por duzentos euros
Advogados-romanos compram um dos ecos
da minha voz
lendo Santo Agostinho
dentro do Titanic-Negreiro
Ilustrando a conturbada paisagem mental das metrópoles brasileiras, a erudição se funde à revolta popular, usando todas as armas retóricas e poéticas no combate às máquinas mentais da ignorância, aos tentáculos discursivos do Império. Surrealismo cruel e vertiginosas passagens de ficção científica são ferramentas empregadas para expôr e extirpar a essência perversa da nossa organização social. Assim continuamos em
Cadenza dos Comandos:
(América Latina)
O resultado:
No New York Times
a visão de um ônibus em chamas
envia um nítido
“Vão tomar no cu!”
ao mundo inteiro…
Esses ônibus, meus irmãos
são ilhas em chamas
no canto 12 do purgatório…
À nossa esquerda
Kafka conversa com Hitler
no celular
e isso será multiplicado…
(A Avenida Paulista evolui para uma elipse e é invadida pelo vazio das 4 da manhã)
Toquemos
Os coros invisíveis de Stockhausen
Nos carros, para os cães no futuro
Futuro jardim dos doze mil comandos.
No lugar de “Ordem e Progresso”,
se escreverá:
VIVA A POPULAÇÃO CARCERÁRIA!
Há pouco mais (na verdade muito) que pode ser falado sobre essa obra que me tomou de assalto. Quando ouvi a primeira faixa já soube que iria fazer uma postagem nesse blog. Ao ouvir o restante do disco, me intoxiquei. Então se você ainda não se convenceu, digo imperativamente: ouça o disco no soundcloud, onde os artistas também disponibilizaram todas as letras desse alucinado spoken-word.
Vida Guerra atirou o recém-nascido do quarto andar e antes que aquele
boneco do Farnese chegasse ao chão ele explodiu e de dentro do
recém-nascido saíram vários celulares com mp3 e mp20 câmera digitais
holográficas...antes que eles...os celulares tocassem o solo se
transformaram em mendigos do futuro formados na PUC,USP,UNICAMP,
MACKENZIE e etc... mendigos e outros fantasmas invisíveis...visíveis por
30 segundos por causa das 9.000 câmeras da Avenida Geral (Ex-Avenida
Paulista)
Um dos mendigos com mestrado em física antes de desaparecer ouviu o poema dizer:
- Basta você não ter dinheiro para ser um fantasma invisível lendo isto ou
- Basta você ter muito dinheiro para ser um fantasma vivo lendo isto.