Ian Goudelock
Ser pessimista e orgulhoso é uma combinação de merda. Estar certo, além de ser pedante, é venenoso. Será que meu projeto políticapocalíptico aqui expresso não é exatamente o que Eles - os inimigos da liberdade, o 0,1% da humanidade - não é bem isso que eles querem? Que tudo se arruíne no caos para que a ordem seja restaurada por aqueles com recursos para sobreviver ao colapso e construir o novo mundo?
Tudo mais arrumado, controlado, ajeitado, equilibrado, sustentado, devidamente dedetizado. Modernização conservadora.
Ordo ab Chao. Esse é o mote do pavio.
Pra onde mandar o currículo? Illuminati, Inc. está contratando. O café é free.
Esperança e dinamite andam de mãos dadas, nas mesmas mãos cerradas, em tempos de desespero toda luta é armada. Quando a inevitabilidade da explosão reclamar a sua hora, não haverá muralha entre sangue e sentimento.
Misantropo humanista,
idealista cínico,
hipócrita.
Não é essa a aceitação necessária para abraçar o absurdo?
Eu sei mentir bem, mas não gosto.
Como confiar em vocês?
Me permita um momento de sórdida lucidez. Sour sincerity. Sinceridade amarga.
É a sina do espírito que se curva ao impulso detetizador. Sutil diferença, será que percebeu?
Entre encontrar e eliminar, qual é o limiar?
O neologismo é o recurso do vil. O trocadilho, o refúgio do verme.
Tenho que eliminar os graus de podridão que me cercam.
1349. La peste noire. Malucos com bicos recheados de ervas cutucam os corpos com varas e colocam sapos sobre seus bulbos pustulentos. Caçando miasmas pegavam pulgas. E morriam. Era só ter uma sacada, mas o paradigma científico ainda não estava no ponto.
13:49. Contemporaneidade. A peste é mais insidiosa. Se instala nos corpos mais sutis. Espírito e mente também são infectados. Todos os chakras desequilibrados. Malucos mascarados chafurdam nos cancros orgânicos e espirituais, incautos como seus ancestrais. O vetor ainda não foi identificado, certificado, catalogado. Mas continuamos inspecionando com nossas rudes ferramentas sofisticadas.
A ambição atual é ser viral. Infectar, se alastrar, expandir, conquistar, explorar. Nada de novo sob o Sol, só mudou o meio de disseminação. Evolução pós-humana, a espécie finalmente aceita sua natureza infecciosa e busca uma auto-eliminação sistemática para uma nova aurora inorgânica.
Ficção? Longe disso.
Longe disso, meu irmão.
A Scanner Darkly (Richard Linklater)
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