caminhos secretos, esquisitos caminhos de estranhos espíritos onde paira um odor purpúreo, opiáceo um oceano de vibrações estáticas e ressonâncias etéricas constatações estratosféricas a astronomia molecular de uma conversa fiada de bar
são as sendas que iremos trilhar entrando pelas fendas de cada olhar cada alma um reflexo no espelho distorcido de uma coletividade feérica de índole famélica distorções subjetivas podem ser tão lúcidas quanto verdades objetivas
pululam pelas preces dos beatos todo tipo de troça malfazeja sob um manto de luz, só avareza aqueles que não reconhecem a própria sombra são os piores canalhas à mesa
caminhamos lado a lado com nossos duplos cegos em exames minuciosos de exatos desatentos navegando nas duas correntes os dois dedos na tomada de força do universo as vitórias sutis e as memórias imbecis são galhos de uma trilha tortuosa, serpentina, calorosa
atos falhos de uma jornada duvidosa fazem sentido na encruzilhada luminosa onde o ser encontra a si e a angústia tem um fim
Desde quando o leão é o rei da selva? Só porque ele é grande e feroz e mata todos os outros bichos? As hienas matam leões também. Inclusive, a mordida delas é mais poderosa que a dos leões. E tem outra: humanos não matam hienas por esporte, mas matam leões. A hiena come toda e qualquer coisa. A hiena prevalecerá. Quando o último leão majestoso for morto por uma bala humana ou levado à inanição pela destruição de seu ambiente, a hiena vai comer seu cadáver e moer os ossos com seus dentes mecânicos. Eu prefiro gatos a cães, mas não tenho como negar a implacabilidade desses caninos selvagens, com suas risadas carniceiras e sua força bruta. Talvez o ser humano tenha denominado o leão como rei para invejá-lo. Para em seguida poder dominá-lo e dizer "EU sou o rei".
Mas não inveja a hiena. Ele não reconhece, mas está lado a lado com ela nessa visão distorcida de conto de fadas sobre a natureza. Não é à toa que sobre os sons da hiena o humano projetou sua própria risada. Afinal, que outro animal realmente ri? Não o rei. Só o ser humano é capaz de dar uma risada aguda e patética e em seguida enterrar seus dentes, metafóricos ou não, no pescoço de outro animal - humano ou não.